Será que existe diferença entre autoestima e autocuidado?
Uma vez me deparei com a frase “É preciso se ter em alta conta, pra ter autoestima baixa”. Na hora fez todo sentido pra mim, talvez a gente se sinta inferior e insuficiente porque cria uma idealização inalcançável do que deveríamos ser.
O quão absurda é a sua idealização a ponto de se sentir tão mal com você mesmo?
Obvio que, ninguém cria isso do nada, todo um contexto que joga toda hora na nossa cara que precisamos alcançar um padrão pra absolutamente tudo. “Sejam perfeitos e conformados”.
Quem decide o que é bonito? A quem interessa que exista um padrão?
Fotografia também é sobre isso. Meu propósito com ela nunca vai ser mostrar que a gente pode ser essas pessoas incríveis, por que é mentira.
A proposta do Afete-se é a gente questionar o que nos levou a essa idealização. Por que você está tentando ser essa pessoa? Quem disse que essa pessoa é você? Em que momento a gente escolheu esse monte de autoexigência?
Por que se não foi uma escolha, então é imposto, e se é imposto, talvez você nem queira mesmo ser isso. A partir do momento que a gente TEM que ser alguma coisa, já não é mais a gente, é outra coisa, será que isso bom?
A mudança tem que vir, mas não pra atender idealizações e sim pra melhorar nossa experiencia de mundo.
Ninguém precisa ser extraordinário, ninguém precisa emagrecer pra tirar foto.
Acho curioso que até quem se encaixa no suposto padrão esta infeliz. Porque é falso, faz mal.
Tem dia que nosso melhor é horrível. Se ser medíocre é só o que você consegue ser hoje, então ser medíocre é lindo.
Pessoas são contraditórias, se todo mundo tem autoestima baixa porque tem que ser uma coisa que não é, talvez seja menos sobre empoderamento e beleza e mais sobre se afetar de tal modo, a repensar como tudo que você é, e o que te cerca, e te atravessa, faz a gente nem perceber, que o comum é o que existe de mais bonito, porque o comum é você.
Frequentemente ser comum é tratado como oposto de bonito. Por que ser comum é feio? Do que então a gente precisa pra ser bonito?. É no comum que está a diferença, nos pequenos detalhes que fazem cada um ser quem é. E a gente fica o tempo todo tentando apagar isso e alcançar uma coisa que nem é a gente.
Rebele-se contra o que fez você acreditar no padrão, não contra você mesmo.
Tem umas frases de uma carta de Clarisse Lispector que eu gosto muito sobre esse assunto. Cito: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesmo - é esse o único meio de viver.”
Uma das reações mais comuns quando a gente esta fotografando e a cliente olha as fotos, é “Nossa!!! Sou eu? Nem parece eu”.
Eu sempre acho um ótimo exemplo de como a gente é lindo, mas nos convenceram do contrário.
A fotografia é um meio, um canal, uma experiência artística, que quando você olha pro resultado do processo, percebe que era só sobre isso, sobre comum, sobre você e sobre como a gente chegou até aqui, e como a gente saiu e saiu melhor e saiu lindo, sendo exatamente como é.
Não da par sair de uma verdadeira experiência artística da mesma maneira que entrou.
Você fica à vontade com quem você é? Do jeito que você é? Neste momento que você está? Quando a gente vai poder, de verdade, parecer com quem nós somos e não com outra pessoa e ficar à vontade com isso? Ser aplaudido por isso? Se gostar a partir disso? O quanto você fica à vontade com você mesmo? Como é ser você? O quanto isso te alegra? Te dá orgulho?
Você é uma plataforma artística, sua existência no mundo pode, através da arte, servir como forma de introspecção, de debate, de expressão; de ideias e possibilidades. Se disponibilize a inspirar o outro!
Por fim, talvez pareça contraditório dizer que é menos sobre a imagem e mais sobre o afeto, afinal de contas, eu sou fotógrafa! Mas é que a imagem pela imagem, sem um sentimento, um significado, um propósito, uma história, não nos serve de nada, ninguém precisa de mais beleza vazia no mundo.
Toda vez que falo sobre isso me lembro de um conto, que falava sobre oferecer rosas a pessoas cegas, onde não importa o fato dela não poder ver o tom de rubro da rosa, mas sim poder compartilhar do afeto que proporciona o gesto de receber a flor.
Gosto de comparar com aquele momento do ensaio que a gente sabe que a foto ficou boa mesmo sem ter visto.
O jogo é fazer um trabalho conjunto, de diálogo e troca de experiências na construção das fotos, um espaço seguro de acolhimento, mostrando as várias faces de cada um, produzir sensações, construir afetos (ou quem sabe desconstruir) e se transformar ao longo de processo.
A arte, não precisa de motivo. Então, vem e fica a vontade pra me chamar e contar que processo ou momento a gente vai eternizar? <3
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