O que afeto tem a ver com fotografia?
Afeto é uma palavra de amplo sentido. Um deles, e o mais obvio, tem relação com afeição e carinho, o outro, tem a ver com ser atravessado (se afetar).
Atravessar, me lembra processo, atravessar não é passar por cima, não é atropelamento; atravessar tem a ver com cuidado, com paciência, com ter atenção enquanto se está no caminho, tem a ver comigo e tem a ver com o outro. Também, segundo o dicionário, afeto pode significar, passar a acreditar.
A proposta do Afete-se, é através do processo artístico da fotografia se olhar, perceber nossa história, e talvez repensar ou agradecer, ou se refazer, reencontrar, recomeçar daqui se precisar, se importar com você e com tudo que esta a sua volta. È sempre sobre se afetar, e se deixar sentir.
O que te afeta? Como e por que afeta? É acima de tudo sobre reflexão, sobre criar um espaço seguro e comum de solidariedade, escuta, troca e reconstrução.
Eu verdadeiramente acredito que a arte produz mudança no mundo, produz narrativas que geram afeto, e por isso, efetivas, ser efetivo está intimamente ligado com ser afetivo. Não existe efeito sem afeto. Tocar as pessoas onde elas se sentem afetadas muda a realidade.
Afetar-se (se deixar tocar, atravessar), efetivamente (de forma concreta, radical), de modo afetuoso (afetivo, com carinho).
A arte pode, ampliar e combater posições estereotipadas, pode socializar informações de qualidade, pode ajudar a reatar desentendimentos, sensibilizar, mostrar diversas perspectivas, questionar posicionamentos preconceituosos e especialmente ela pode impulsionar a diferença em nossas mentalidades, a arte não julga.
Eu tenho muita esperança nela como um instrumento de mudança. Portanto, a revolução do afeto em nós é também política, novos sujeitos, resultam em novos jeitos de estar no mundo, que resultam em um novo mundo possível.
È difícil escrever sobre algo que talvez só faça sentido depois de passar pela experiência fotográfica. Se ver sob outra perspectiva, refletir uma beleza que muitas vezes a gente não vê no espelho, e beleza aqui não no sentido apenas estético, até por que, a quem interessa o padrão de beleza que nos é imposto? Mas no sentido de se olhar com afeto, de deixar claro o bonito que já mora em nós. Belezas são coisas acesas por dentro.
Acho que todo ponto de vista, é a vista a partir de um ponto, a mágica da fotografia é se perguntar a partir de que ponto a gente esta se vendo, vendo o que nos atravessa e vendo o outo.
Fotografia significa, escrever com a luz, e a partir do momento que a gente põe luz sobre algo; ilumina, talvez seja impossível deixar de ver o que apareceu.
Eu também aprendi que toda luz, inevitavelmente gera uma sombra, e há beleza nela, a luz depende do escuro, e eu gosto de acreditar que a vida é uma grande foto[grafia] onde a gente aprende a desenhar com a luz e a sombra.
Guimarães Rosa diria que, “o correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta e o que ela quer da gente é coragem”. Coragem pra talvez se olhar de novo e questionar como a gente chegou até aqui e pra onde a gente quer ir.
Todo mundo tem uma história que merece ser contada; ciclos que precisam ser registrados. A arte existe onde a vontade de sentir existe, evoluir não é um processo linear. A fotografia regista e pode nos ajudar com esses movimentos.
“Não há agonia maior do que suportar dentro de si uma história não contada.” - Maya Angelou.
Aqui trago uma citação indireta série pose , “A maior dor que uma pessoa pode sentir, a maior tragédia que uma vida pode enfrentar, é ter uma verdade dentro de si e não poder compartilhar, é ter uma grande beleza e ninguém poder ver.” Inclusive você mesmo.
Eu gosto de acreditar que todo mundo é a soma de pequenos e belos detalhes, somos únicos e diferente e isso forma a totalidade. Por isso eu disse que tem a ver com compartilhamento, conexão, e espaços seguros.
Pessoas precisam ser ouvidas. È urgente que em qualquer interação; se respeite o acúmulo de experiencias que cada um já traz consigo, não falar PARA, falar COM.
A foto só sai boa se a gente se afeta, se conecta e se põe a disposição.
Robert Capa, um fotografo de guerra famoso dizia que, se a sua foto não esta boa é porque você não esta perto o suficiente.
Falar sobre esses processos da fotografia, envolve muito da nossa autoimagem, sobre isso segue o próximo post aqui do blog. Será que só gente bonita faz ensaio fotográfico? Vem conversar sobre se você tem medo de sair feia nas fotos!